Estou como o morador de uma área de risco que recebeu o aviso de que em poucos segundos a chuva pode fazer toda estrutura ao redor desmoronar, mas que não saí do lugar, não quer ceder. Não quer deixar o lugar que por tanto tempo o acolheu, o guardou. Não quer deixar algo que tanto amou... e ainda ama.

Quer tentar fazer algo para conter o desastre eminente, a inépcia fica gritando que é possível fazer algo. Mas a lucidez de  vez em quando dá o ar de sua graça e mostra que a única coisa possível ela já vem fazendo. Agora é esperar. Tudo tem um motivo. Tudo tem um propósito.

Cai a chuva

Caía chuva.

Molha eu

Não, me molha é o correto.

Mas se é para me molhar

Não importa o jeito, não importa o lugar.

Chuva, Chuvisco, Chuvarada.

Chuva que já me ajudou muito

Me ajudou a disfarçar.

Chuva que já e atrapalhou muito

Com todos os meus planos a encharcar.

Ó chuva, estou a necessitar de tua ajuda

Tem muita gente a me observar

Tem muita gente a espreita

Me ajuda com a tua cobertura nada seca.

Encharca os planos de quem me quer mal, e não os meus.

Quero chuva mesmo é de amor.

(12/11/2013)

Era um dia de trabalho qualquer. Realizei minhas tarefas e o relógio indicava que a hora de ir para casa já tinha chegado há vinte minutos atrás, apesar da minha enrolação para enfrentar o sol escaldante que me aguardava fora dos limites do ar-condicionado da sala.

Sempre vou e volto do trabalho andando. Dádiva para poucos. Sim, DÁDIVA, pois para quem já enfrentou transportes públicos como o da empresa VSA ou Brisa para ir para Salvador, andar sob o sol de 13h é refrescante e revigorante...  No entanto, nesse dia em comum, eu estava com uma sapatilha que apertava meu pé e estava fazendo calos, então decidi ir de ônibus até o terminal de integração (TIR) para depois pegar o ônibus que ia para o meu bairro. Era uma volta gigantesca, mas para um pé dolorido, o único remédio.

Assim que cheguei ao terminal, o ônibus que ia para meu bairro já estava pronto para sair #eitaGlória e não precisei esperar tanto como de costume. Ele seguia vazio, mas ao passar por alguns pontos, foi ficando cada vez mais cheio, sendo que entre os passageiros que adentraram o ônibus, haviam muitos idosos. A maioria conseguiu se sentar nos bancos restantes, alguns bem próximos a mim. Foi ai que entrou um senhor, tinha um porte viril para tal idade, mas suas cãs e sua pele cansada indicavam sua idade avançada. Eu estava sentada próxima a janela, na última cadeira, tinha ainda algumas pessoas em minha frente, mas o chamei e ofereci o lugar. Ele rejeitou, fez cara de bravo para mim, mas eu não me dei por vencida, levantei e dei espaço para ele passar e se sentar. Ele enfim se sentou e seu semblante mudou. Do nada ele já estava com um leve sorriso nos lábios e eu, me sentindo bem por ter tomado uma atitude. Nem me lembrava mais da dor nos pés. Naqueles instantes eu apenas me lembrava mesmo do que meu pai havia me ensinado quando eu era criança: "você é jovem, precisa ceder seu lugar às pessoas com bebês de colo, aos idosos, etc. Um dia você vai estar no lugar deles, ai vai ser sua vez de ganhar o lugar". Acho que isso é algo que somos, ou melhor, éramos ensinados desde que tínhamos consciência suficiente para entender que existem pessoas que precisam mais que nós de descanso. Atualmente o que eu vejo são a maioria dos pais dizendo "meu filho pagou passagem, tem o DIREITO de ir sentado". Hoje eu vejo pessoas que ainda cedem seus lugares, mas pelo andar da carruagem, essa atitude não durará muitos anos. Eu sinceramente peço a Deus que quando chegar a idade avançada não necessite utilizar transporte público, pois sinto que não haverá jovens que pensem como alguns de minha geração. 

Pondo fim a minha prolixidade, passando alguns pontos, um banco bem ao lado do senhor a quem cedi o lugar ficou vago, então me sentei ao seu lado. Ele recebeu uma ligação e a partir dela começou a puxar assunto comigo, todo sorridente. Nem parecia o senhor carrancudo a quem insisti para que se assentasse em meu lugar. Era outra pessoa. Pessoa que só precisava receber atenção em tempos onde o egoísmo impera. 

Priscila R.

25/10/2013

Prisca Rockbell ♥

(17/09/2013)

Essa semana perguntaram minha idade e confesso que parei para pensar. Fiz as contas e ainda perguntei a minha amiga quantos anos ela tinha, pois, já que sou um ano mais nova, saberia minha idade. Não, eu não sofro de problemas de memória, dislexia ou lerdeza aguda, é que depois dos 18 o tempo parece ter passado tão rápido que eu sempre me perco entre os aniversários. Ok, falando assim até parece que eu nasci em um ano bissexto e me confundo com as datas, mas não...

Eu amei ser criança, um pouco menos de ser adolescente e gosto de ser jovem. Vivi bem um pouco de cada, embora carregue características de cada uma dessas fases de minha vida. Mas ai eu cresci e tudo é correria, prazos, tempo curto. Eu paro na praça e vejo crianças correrem também, mas a corrida delas não incluem responsabilidades ou transtornos, e é por isso que eu as admiro com saudade desses meus dias.

Mesmo que eu não tenha sido uma adolescente que nos momentos rebeldes tenha dito que não via a hora de fazer 18 anos para sair de casa, o tempo não me espera e a matemática que segue é que, a cada ano minha idade é acrescida na mesma proporção que  os meus dias vão sendo subtraídos.

O que seria de mim

Sem os amores platônicos

Sem os namoros com aspas

Sem o casamento de mentira.

Quem seria eu

Sem as lágrimas de manteiga derretida

Sem as minhas músicas dramáticas e melosas

Sem a mania de me expor em textos?

Quem seria eu

Sem a mania de misturar vestido com all star

Sem a vontade dançar, mesmo na rua

Sem a coragem de ser quem eu sou?

Sinceramente tenho medo de saber.

Priscila Rockbell

29/07/13

Prisca Rockbell,  sobre uma junção de pessoas num texto só.
(Janeiro de 2013)

Há quem diga que mudei.

Há quem não nota diferença alguma.

Há quem perceba alguma mudança, mas a ignora.

Há quem quer que eu mude.

Há quem tem saudade de uma outra parte de mim.

Há quem me quer bem.

Há quem não me quer

Há quem não vive sem mim

Há quem não suporta me ver

Há quem sinta minha falta

Há quem não percebe a minha presença

Há tantos "quem"

Porém há apenas uma de mim

Por isso tento viver a minha maneira

Pois não há ninguém que possa viver por mim

Sofrer por mim, ser eu.

Sendo assim, me basta apenas uma coisa a fazer

Essa coisa ?
Viver.

Priscila R.

(Rascunho de muito tempo atrás finalmente terminado em 02/07/2013)

Priscila R.

(24/07/2013)

Eu Tinha aproximadamente 5 anos quando, brincando como criança levada que sempre fui, tive o pé  perfurado com um caco de vidro resultante da quebra de um pote de doce de leite. Lembro que briguei com o menino que havia quebrado o pote, devo ter xingado até a décima geração dele, mas depois eu entrei na lavanderia  (que minha mãe havia acabado de limpar) e deixei pingos de sangue por todos os lados. O chão que era de piso marrom, recebeu gotas do meu vermelho sangue deixando um contraste bem legal  nerdicesdedesigner. Não me lembro da dor. Não me lembro se chorei, ou melhor, se chorei muito, porque sempre fui manteiga derretida. Não guardei todos os momentos, mas há algo nesse dia que eu nunca esquecerei.

Morávamos em um sítio, no interior de São Paulo, o primeiro lugar que morei depois de sair da Bahia. Para ir ao médico mais próximo ia levar tempo, então meu pai cobriu meu pé e disse que após sairmos da igreja (creio que era um domingo) ele me levaria para fazer um curativo no hospital. 

Para chegar até a igreja, andávamos cerca de 5 minutos até a estrada, onde havia um ponto de ônibus e então esperávamos pela primeira lotação que passasse e seguíamos para o centro da cidade, onde ficava a igreja e por conseguinte o hospital. Para fazer esse caminho, meu pai simplesmente me colocou sobre os ombros e eu fui toda feliz, porque só eu tinha esse privilégio. O privilégio de ser pequena demais e, nesse dia, de estar com o pé machucado, veja só.

Ao fim do culto fomos para o hospital e ele me perguntou:

- Você não vai chorar, né? Você já é uma mocinha.

- Eu não, eu ague- aguento, pai. - Gaguejei enquanto ouvia gritos de alguma outra criança na enfermaria e arregalava os olhos.

- Vamos combinar assim, se você não chorar eu te dou uma bala dessa aqui. -ele falou ao tirar do paletó uma das balas deliciosas que ele sempre tinha e que eu amava.

- Combinado!

Fui chamado, a enfermeira fez o curativo e eu caladinha. Segurei a dor do merthiolate (que nessa época doía pacas) e tudo mais. No fim, tive minha recompensa: a tão desejada bala e, de novo, fui carregada sobre seus ombros. Eu amava quando ele me carregava assim.

Sim, ele me prometeu uma bala. Não foi o último celular da samsung. Não foi a boneca que andava sozinha. Não foi um Ipad.  Foi uma bala. Parece tão pouco né? Mas  minhas lembranças provam que não. Foi uma atitude simples, de uma coisa simples, mas que hoje me faz lembrar do carinho dele comigo.

No pé, ainda tenho a cicatriz desse dia, e é disso que eu lembro quando eu vejo a cicatriz: É bem assim quando eu lembro que ele não está mais perto de mim: um dia sangrou, doeu, eu chorei, eu brigava com Deus questionando o porquê dele ter sido tirado de mim antes de me ver ir para meu primeiro emprego ou entrar para a faculdade. Hoje eu não choro mais, ou pelo menos não deixo que me vejam chorando. Idiotice ter medo que saibam que você sente. Mas é assim mesmo.

Essa história toda é para falar desse homem que foi e sempre será o homem que eu mais amei nessa terra.

(Priscila Santiago #sobrenomeDeleQueEuSempreQuisTer)

Entrelaçar os dedos é mais que demonstrar para as pessoas ao redor que você e o dono da outra mão tem um compromisso. É uma forma de carinho, de amor. É quando você percebe que os espaços entre os dedos não servem apenas para auxiliar na pega das coisas, mas também serve de encaixe perfeito para outros dedos.

Não sou uma conhecedora nata dessa ação perdi a conta de quanto tempo faz que não ando de mãos entrelaçadas com alguém, mas a sensação é inesquecível. Deve ser por isso que me incomoda tanto quando em um show, por exemplo, quando uma amiga entrelaça os dedos nos meus para passarmos pela multidão. Eu me sinto muito incomodada e trato logo de ajeitar para pegar direito em sua mão.

Abraço é ótimo, beijo nem se fala, mas eu tenho que confessar: não há sensação melhor do que andar de mãos dadas com os dedos entrelaçados.

Primeiro dois

Por último dezesseis

Quatro meses no total

Dois meses junto

Dois meses separados

Tudo múltiplo de dois

Tudo par

Só não ela e ele.

Priscila R. (03/2013)

Fixou o olhar na rua enquanto fechava o portão, mas não sorriu como outrora. Ao entrar em casa, a mãe que lhe aguardava pergunta para quem ela estava olhando. A moça apenas respondeu: "ninguém".

Ficou internamente se perguntando se estava cometendo um pecado: como explicar para a mãe que olhava para alguém, mas que este alguém não estava de fato ali. "Ela me veria como louca", pensou. 

O "alguém" estava na dimensão das lembranças. Ela olhava para alguém que ficara no passado, criando a imagem dele sorrindo e acenando, às vezes chamando-a de volta para uma outra despedida, às vezes insistindo para ela entrar logo em casa pois já estava tarde. Olhava na esperança de sentir a mesma felicidade de tempos atrás. Olhava na esperança do alguém aparecer ali. Olhava para o passado. Um passado não tão distante, mas que provocava saudade proporcional a 100 anos de separação.

Priscila Rockbell

17/04/13

Priscila Rockbell

(07/03/2013)

Priscila Rockbell

(22.02.13)

A primavera passou por aqui

Flores belas cresceram,

Um cravo, lindo e especial nasceu

Fez com que borboletas surgissem

E a alegria se fez presente.

Depois veio o verão

Altas temperaturas viraram rotina

A sede era constante

E a vontade de saciar também

Precisava, queria, tinha 

Foram os verbos mais utilizados nessa época.

Daí o outono chegou

Levou as flores, o cravo e a maioria das borboletas

Abaixou a temperatura

E preparou o lugar para a chegada do inverno.

O inverno então tomou posse do lugar

Chegou e na mesma hora se sentiu em casa

Tudo estava mórbido, seco, sem cor e alegria

Da forma que ele gostava.

Mas ainda havia um pouco de calor

"A temperatura poderia abaixar mais"- pensou

E assim ele o fez.

O problema é que o inverno não sabe que o frio preserva

Que ameniza, anestesia.

Não sabe que quando a primavera chegar

Ele terá ajudado a guardar indícios da antiga primavera

Quando tudo era lindo e perfeito.

(Priscila Rockbell)

Mas, no fundo, eu admito

Olhando assim de lado

Eu... te acho tão bonito

(Mallu Magalhães -  Te acho tão bonito)

(Priscila Rockbell)

Priscila Rockbell.

(20.10.2011)

Sempre vou pensar demais

Sempre vou sentir demais

Talvez eu até chore demais

Mas o que posso fazer ?

Já tentei controlar e não deu certo

É minha essência.

No fim dessas demasias 

Eu aprendo.

Mas não aprendo demais

Porque aprender nunca é demais

(Priscila Rockbell, 04/02/13)

Frio ou quente.

Alto ou baixo.

Grande ou pequeno.

Tudo ou nada.

Ando cansada dos meios termos. 

Ando cansada do que permite dúvida.

Certeza evita tantos questionamentos.

Por que complicar o que já é complicado?

Priscila Rockbell

Priscila Rockbell,  a mais nova fã de David Nicholls 

Eu sei que eu penso demais, faço tempestade em copo d'água mas se me der uma chance eu posso mudar. Prometo pensar em coisas que me disse ontem apenas umas cinco vezes ao dia (e não o dia todo). 

Não me culpe por ser assim, é da minha natureza. Costumo pensar demais também porque um cara muito inteligente, Leonardo da Vinci (você deve ter ouvido falar), disse que quem pouco pensa, muito erra e você sabe, eu detesto errar. 

Notei que quando se erra por muito tempo, é só aparecer alguém que faz você sentir que está acertando, para o bichinho da dúvida começar a te morder. Então você começa a procurar pêlo em ovo, como diz o ditado popular. Eu procurei e nada achei, então decidi me acalmar e deixar de pensar. No entanto, não sei se foi antes de minha decisão ou depois, vi que algo havia mudado e eu percebi que voltar a pensar demais é a única coisa que você havia deixado.

Priscila Rockbell,   a pensativa.

Procura-se alguém disposto a arrumar a bagunça que outros alguéns fizeram no decorrer dos anos. Mas aviso logo, não é pouca bagunça não. São tantas histórias, contos, frases, que para conseguir organizar tudo, será necessário que o candidato tenha paciência e o mais importante, vontade de terminar o trabalho. Sim, porque a vaga é para quem quer arrumar, e não para quem quer tentar. O trabalho é árduo, mas vez ou outra, no meio da pilha de histórias, você encontra belas poesias que fazem tudo valer a pena.

Há dias venho me sentindo anestesiada. Não sinto nada, quando deveria sentir muito. 

É por isso que quando não sei o que sinto digo que estou anestesiada, como se dissesse que não sinto nada. Mas não ao dizer que não sinto nada, me lembro das aulas de sociologia do ensino médio em que o professor dizia que segundo Hegel, o tudo é o nada, o nada é o tudo. Partindo desse pressuposto, quando digo não sentir nada é exatamente quando sinto tudo. Eu apenas não sei distinguir o que exatamente, mas isso não significa que eu tenha deixado de sentir. Sinto e muito, mas leva um tempo para eu saber exatamente o quê.

Prisca Rockbell, a anestesiada.

Com carinho e palavras, Prisca Rockbell

Com carinho, Prisca Rockbell ♥